Lilypie 3rd Birthday Ticker Lilypie 1st Birthday Ticker

16/11/2006

1 Mês

Hoje faz um mês que a Princesinha nasceu. Hoje é um dia especial. :)

Quando estava gravida, imaginava o dia do nascimento dela bem diferente da realidade que me aconteceu. Também sempre imaginei que o dia de regresso a casa com ela e com o J. seria inesquecivel, e a realidade foi totalmente diferente.

Sempre desejei ter um parto normal, e se possivel (se me aguentasse e não pedisse por ela) sem epidural. Queria muito sentir a minha filhota sair de dentro de mim, era algo que ansiava e desejava muito. Na realidade tive doente e sem forças no dia do parto. Os rins e o figado estavam com problemas e e já não aguentava muito mais. As tensões não baixavam e estavam sempre a 16/12 ou 17/12, o melhor que consegui nesse dia foi 15/11. Fui transferida de Famalicão para Guimarães porque na opinião da medica de Famalicão, a Luana deveria ser retirada, porque estava a causar-me demasiado sofrimento e ela também estava a entrar em sofrimento. Em Guimarães, a equipa foi fantastica. Fui super bem recebida e sempre muito atenciosos. O médico que me recebeu disse-me que me iam fazer uns exames mais e que se os resultados não tivessem melhores que os Famalicão, a Luana nascia antes da meia noite. Isto eram +/- 15H (foi a minha mãe k me disse, porque eu nem fazia ideia das horas). Encaminharam-me para um quarto sozinha para poder descansar e depois de fazer os respectivos exames, deram-me uma injecção (k não sei o k era, apenas me disseram que era para me acalmar as dores) que me pôs a dormir um bom bocado de tempo e baixou-me as tensões.

Por volta das 22H, a mesma enfermeira k me deu a injecção veio ver-me e perguntar como me sentia. Estava muito zonza e não me sentia muito bem, mas não me doia nada. Fez-me um carinho no cabelo e disse-me que estavam a decidir o que fazer, porque os exames já estavam prontos.
Nesse momento senti medo, não queria que fosse assim, não queria uma cesariana e não queria que me tirassem a Luana. enrolei-me na cama à espera de noticias e conversei muito com a minha menina. Tentei preparar-me para tudo!
Ao fim de alguns minutos, a médica veio ver-me e disse-me que iam fazer uma cesariana urgente, porque eu estava com eclampsia e podia complicar demasiado. Chamou a enfermeira (a mesma que tinha estado comigo) e disse-lhe para me preparar.
E assim foi, prepararam-me. Mas eu não me sentia preparada, talvez por toda a urgencia e rapidez colocada nas mãos das enfermeiras (depois veio mais uma ajudar), talvez porque elas me disseram que a Luana já estava a sofrer, talvez pelo medo do que pudesse acontecer no bloco operatorio, não sei ao certo, só sei que tive medo, muito medo de perder a Luana ou de nunca a poder ver, tive medo de morrer e não lhe ter tocado.

Durante a preparação, avisei o J. e os meus pais que ia fazer a Cesariana.
Levaram-me para o Bloco Operatório e à entrada estava o Cirurgião, a anestesista e a médica da Neonatologia. Lembro-me de eles me terem recebido com um sorriso e de me terem dito que ia correr tudo bem. A Médica da Neonatologia veio para o meu lado e disse-me que era só mais um bocado e tudo ia passar, e no fim disse-me: "... tá bem mamã?". Nunca me tinham chamado assim, e só me recordo de ter vontade de chorar e de alguem ter dito, "tá tudo pronto" e tudo se apagou.

Acordei com uma terrivel dor de garganta e vontade de vomitar, não sabia onde estava e não conseguia abrir os olhos, estava tudo muito confuso. Sei que levei um estalo de alguem que nao consegui ver quem e ouvia chamar o meu nome! Não conseguia falar, queria falar e não conseguia, mas devo ter dito qualquer coisa porque responderam aos meus pensamentos "... não se preocupe que não vomita, ... tá bem levantamos-lhe a cabeça, ... a dor de garaganta foi do tubo, isso passa já..., a sua bébé tá bem, é perfeita e correu tudo bem..., não pode ve-la, só amanhã..." e sei que adormeci, pois levei outro estalo :P e voltei a acordar. Aí já consegui ver bem que estava numa sala grande, cheia de monitores e tinha pelos mais 1 pessoa deitada numa maca como eu e pelos menos 3/4 médicos ou enfermeiros.
Ouvi alguem dizer, que eu já estava pronta e que já podia ir para o quarto.

Fui por um corredor, depois num elevador e novamente por outro corredor, e ao virar de uma esquina, vi o J. e a minha mãe. Ele sorriu-me e a minha mãe veio a chorar e a sorrir dizer-me " ela é tão pequenina, mas tão perfeitinha... e tem muito cabelo como tu quando nasces-te..." O J. sorria a olhar para mim, esperou que me colocassem no quarto e deu-me um beijo e disse: " é a tua cara, linda, tão linda e tão perfeita..."
Perguntei por ela, queria ve-la e eles disseram-me que estava numa incubadora por ser pequenina, mas k estava bem e que agora eu tinha que descansar e no dia seguinte podia ir ve-la.
Eles foram embora e eu voltei a dormir. Sentia dores no corpo, faltava-me a minha pequena aos pontapés na barriga.
No dia seguinte soube que eu às 22H fui avisada da Cesariana, às 22.15H já ia a caminho do bloco operatório, e que às 22:50H a Luana estava a nascer. Foi tudo muito rápido. Eu saí do Bloco +/- a 1.30H da madrugada.
Passei a noite a levar com injecções, tomar pastilhas e medir tensões. Estava tão inchada que nem queria acreditar, estava pior que quando tinha a Luana dentro de mim!
No dia seguinte depois do médico passar, por volta das 11H, deixaram-me ver a minha pequena. Levaram-me numa cadeira de rodas à Neonatologia, e pude ver a Luana pela primeira vez.
Não sabia qual era no meio de tantas incubadoras, mas depois de olhar uns minutos para dentro do vidro, vi um bébé pequenino, a chorar, com os braços no ar e as perninhas a dar pontapés, e tive a certeza que era a minha boneca. Pedi se podia entrar e uma auxiliar veio-me explicar as normas de segurança e higiene para poder entrar no local dos bébés. Perguntaram-me se eu sabia onde estava o meu bébé e eu disse-lhe que só podia ser aquela malandreca a chorar. foram confirmar o meu nome e a incubadora e perguntaram-me o nome que a bébé ia ter, e que era mesmo aquela a minha boneca.
Quando cheguei perto da incubadora, não sabia o que fazer. Ela era tão magrinha, tão pequenina, tinha tantos fios ligados a ela e chorava tanto, e estava fechada numa caixa de vidro, e eu queria tanto tocar-lhe, queria tanto pegar-lhe, queria poder acaricia-la e falar-lhe ao ouvido o quanto a amava, e não sabia como fazer, se podia abrir o vidro, se podia mexer-lhe.
Uma enfermeira viu a minha tristeza, as minhas lagrimas e veio dizer-me que podia tocar-lhe sempre que quisesse, mas não a podia tirar de dentro da incubadora. explicou-me como abrir as portinhas que tinha nos lados e meti lá dentro as minhas mãos. Tive tanto medo de lhe tocar, de a magoar, que só lhe toquei com a ponta dos dedos nas pernas e nos braços, acariciei-lhe o cabelo e ela lentamente foi deixando de chorar, e eu fui ganhando coragem para lhe tocar melhor. sentia-me incompleta. Precisava muito pegar nela, queria tanto sentir-lhe o cheiro, a pele...
Comecei a sentir-me muito cansada, ainda só tinham passado algumas horas da Cesariana e eu ainda estava muito inchada. Tive que voltar para o quarto.
De tarde voltei para lá um bocado, e a médica disse à enfermeira que eu podia pegar na bébé. Foi tão especial aquele momento, foi tão unico, foi um momento tão meu e da Luana, foi a primeira vez que lhe toquei e senti o corpo todo. Tinha tanto medo de a magoar! Superei esse medo e acariciei-a, beijeia- muito, contei-lhe historias, cantei para ela, aprendi a tomar conta dela com aqueles fios todos, a dar-lhe o leite numa sonda e não num biberão, a não me passar completamente quando ela deixava de respirar e ficava roxa e tinha que ter oxigenio, quando a picavam toda para fazer exames e ela berrava a olhar para mim como que a pedir ajuda!
Aprendi que ter um filho doi muito, o nosso corpo fica dorido, queremo-nos mexer e não conseguimos, queremo-nos sentar e doi tudo, mas doi muito mais, e não se esquece essa dor, de termos o nosso bébé na nossa frente, aquele que carregamos durante meses, aquele que sorrimos sempre que o vemos numa Eco, aquele que nos enche de alegria sempre que dá um pontapé, e não lhe podemos tocar, não o podemos ajudar, queremos fazer tudo para que não chore mais, para lhe limpar as lagrimas e não podemos tocar-lhe porque estão a mudar o soro ou a meter uma sonda ou acabaram de lhe ligar o oxigenio. Essa dor, não se esquece, não desaparece, porque sentimo-nos pequeninas, porque sentimo-nos incapazes de ajudar aquele que mais amamos. E falo no plural, porque sei que todas as maes que conheci na Neonatologia se sentiam assim, exactamente como eu ou até pior que eu.

Os dias foram passando e a Luana foi recuperando lentamente, passo a passo, ora perdia peso, ora ganhava, ora tomava o leite todo sem vomitar ora vomitava tudo, era sempre uma incerteza o que aconteceria no momento seguinte.

Mas Hoje, faz um mês, está em casa à 14 dias, e está cada dia mais linda e mais maravilhosa.
Para alguns pais que ainda estão na Neonatologia, estes 14 dias foram interminaveis, para mim passou a correr. Hoje sei o que sente uma mae com o seu filhote em casa, mas também sei o que sofre uma mae com o seu filhote num hospital numa situação destas.
A minha não foi a mais complicada, conheci casos muito piores que o meu lá, mas para mim já foi muito, já me custou demasiado.
Chorei muitas vezes, acho até que vezes de mais. Também sorri muitas vezes, pena que não tantas como as que chorei.

Assim, aos pais do Pedrinho, Maria João, e os dois Tiagos, que já estão em casa, espero que esteja tudo a correr pelo melhor, que eles se estejam a portar muito bem. Saimos todos +/- no mesmo dia, os gemeos Maria João e Tiago sairam 3 dias antes.
Aos pais do Luis, os meus mais sinceros votos de rápidas melhoras para que talvez no Natal ele possa estar em casa. Ao Luis desejo-lhe tudo de bom na vida, muita saude e felicidade. À mãe do Luis, queria dizer-lhe que a admiro muito. É uma mulher com muita força e coragem, é uma mulher que eu me orgulho de ter conhecido. Pouco falamos, talvez porque não me sentia à vontade para falar sobre a dor, mas acho que ela percebeu que chorei a morte do gemeo do Luis em silencio, com a minha Luana ao Colo, e a rezar por ela, para que tivesse força para aguentar aquele momento tão dificil que todos estavamos a assistir. O bébé não resistiu, os medicos fizeram tudo o que pudiam, mas ele não resistiu, teve um derrame cerebral. Foi melhor assim ouvi eu dizer lá dentro, ia ficar deficiente para toda a vida. Mas era filho dela, era carne da carne dela, era sangue do sangue dela. Ela aguentou, chorou, berrou... mas aguentou, pelo Luis, pelo outro filho que estava na outra incubadora, por ele, ela aguentou. A ela um beijo e um abraço muito especial, nunca a esquecerei.

A todas as outras maes e pais que la estavam e que entram todos os dias, desejo-lhes muita força e coragem.
À equipa medica e enfermeiros da Neonatologia, o meu muito obrigado por tudo o que fizeram pela minha filha e por mim.

À minha Luana, muitos parabens pelo teu 1º mesinho.

A todas voces que leram até aqui, de verdade são de muita coragem também, porque só agora me apercebi de como isto está grande. :)

Beijos
Cleo

13 comentários:

Marta disse...

Fiquei com lágrimas nos olhos ao ler este post tão sentido.
Desejo-te tudo de bom para a tua pipopquita.

Um beijinho e parabéns pelo primeiro mesinho.

andreia disse...

Cleo, já estou a chorar com a descrição do que tu e a tua Luana passaram, talvez por daqui a nada estar a chegar a minha vez fiquei com medo, muito medo. Mas o que realmente importa é que para vocês tudo correu bem.
Beijinhos grandes

Anónimo disse...

Amiga, admiro-te tanto. Conseguiste por-me a chorar. o que viveste foi lindo. Dá um beijinho grande grande grande á nossa pipokinha pelo mesinho que faz hoje, estou morta por lhe pegar. Lembra-te que estou á espera do teu telefonema. Beijinhos grandes cheios de saudades para todos

Anónimo disse...

Um beijo muito grande para ti e para a tua pipoka.

InêsN disse...

não consigo imaginar cleo. não consigo e não quero.

como fiquei sem palavras deixo-te só os parabéns pelo 1º mês da luana.

abraço forte!

Mãe disse...

Nunca chorei tanto a ler um post... talvez por descreveres tão bem aquilo que se sente por um filho e por não conseguir imaginar a dor que foi não poderes tocar na luana.... não poderes senti-la logo que nasceu... chegares a casa sem ela e v~e-la tantas vezes a sofrer... ser mãe trás-nos o que há de melhor e o que há de pior na vida... a dor deles doi muito mais do que a nossa...
estou imensamente FELIZ por voc~es e desejo do fundo do coração as maiores felicidades deste mundo!!!
bjos cheios de carinho para a Luana e para a mamã dela que é uma super mamã!!!
Marta e bebés

Anónimo disse...

É impossivel imaginar o que sentis-te.
Que aperto no coração!

Um beijinho muito grande para ti e para a tua Pipoka pelo o 1º mezinho.

Tudo de bom para voçes.

adonadacasa disse...

Sem palavras...
deixo um beijinho doce para a pipoca e sua mamã coragem!
acasadocuca.blogspot.com

Anónimo disse...

Uma verdadeira história de coragem.
Que a Pipoca seja toda a vida a grande lutadora e vencedora que demonstrou ser neste primeiro mês de vida!!!
Muitos parabens pelo 1º mes!

Rita disse...

um beijo

Anónimo disse...

Querida Cleo
Devem er sido dias horriveis mas felizmente a Luana recuperou e mostrou ser uma guerreira, acredito sinceramente que a partir de agora só pode ser melhor...
Parabéns pelo 1º mês e parabéns pela coragem.
Bjs enormes

mãe disse...

Parabens pela sua menina... tive a minha menina no meio 11 dias na neonatologia quando nasceu (34 semanas, 2 kilos) e posso dizer, que foram os piores 11 dias de toda a minha vida... é uma experi~encia que nos marca, que nos "vacina" para muita coisa... comparados com esses 11 dias, o resto é canja...
felicidades ...

K471 disse...

Sofreste tanto, tanto estalo meu deus ehehe.
O que importa, é esse vosso rebento, cheio de luz e alegria!
Tudo de bom!!
Beijinhos da família Pipoca.